quarta-feira, 23 de junho de 2010

E o Dunga?

É, o pessoal anda na bronca com o técnico da Seleção, há bastante tempo aliás. Mas, peraí, que pessoal? E por que tanta bronca com ele?

Em 1990 começou na Seleção o que se chamou Era Dunga. Infelizmente esse nome foi adotado para marcar um time que disputou a Copa da Itália na bagunça, em meio a brigas por dinheiro de patrocínio (na foto oficial, os jogadores tamparam o símbolo de um dos patrocinadores colocando a mão no peito como "patriotsmo"), e com um esquema tático que até agora ninguém entendeu. Dunga acabou sendo marcado com esse fracasso até 1994 quando, pela troca de Raí, capitão e camisa 10, por Mazinho, ele assumiu a braçadeira e levantou a taça nos Estados Unidos gritando "Tá aqui pra vocês, p...!". Quem seriam "vocês"? Acho que parte quem o criticou, parte quem queria aquele título desde 1970.

A Era Dunga passou a ser um misto de futebol de resultado, de marcação, com garra, luta. Em 1998 um episódio curioso. No jogo contra Marrocos, o acusaram de dar uma cabeçada em Bebeto dentro de campo, coisa que a imagem da TV não deixa claro. Foi chamado de anormal, animal, desequilibrado. No jogo seguinte, contra a Noruega, Dunga ficou calado. Era ele quem dava bronca no time, gritava, chamava a atenção, mas nesse jogo ficou mudo e o Brasil perdeu de virada. Sentiram falta dos gritos de Dunga, acharam curioso um jogador ser observado por gritar ou não em campo, e a partir daí Dunga voltou a gritar, até aquela final contra a França que não precisa (ou não possui) explicações. Ao fim do jogo Galvão Bueno dizia que muito se criticou a Era Dunga mas naquele momento muitos lamentavam seu fim.

Depois da bagunça em 2006, o capitão do Tetra, que naquela ocasião foi chamado para marcar Romário na concentração, foi chamado de novo para dar jeito no time. E o que se faz? Acaba-se com a bagunça, ficam de fora os que não tiveram vontade, os fora de forma, quem não se compromete, quem pede para não jogar. Jogadores daquela seleção foram testados, Ronaldinho Gaúcho, Adriano, mas eles não corresponderam ao que o técnico queria. Nesse tempo vivemos uma entressafra de bons jogadores, os bons não renderam o que se esperava e o técnico montou um esquema bem parecido com o de 1994. O time é competitivo, não joga bonito, não tem um craque como Romário, laterais como Jorginho, Leonardo, Branco ou um volante técnico como Dunga. Desde sempre o chamaram de "pseudotécnico" e o cara ganhou Copa América, Copa das Confederações e classificou o Brasil com certa antecedência para a Copa, ganhando da Argentina lá.

Chega 2010, ano da Copa, e surgem os meninos da Vila, Neymar e Ganso. O povo pede que eles sejam convocados para a Copa! Dois garotos que nunca fizeram uma partida internacional, poucas vezes jogaram em escala nacional, deviam ir, talvez até como titulares, para o campeonato mais importante do mundo! Vieram piadinhas, "faça como o Dunga, não use craque". Agora surge a hisória de que Ganso sentia dores no joelho há dois meses, foi operado e precisa se recuperar. "Ah, mas o Kaká também tá se recuperando", acontece que o Kaká já tem quase 10 anos de Seleção, "em 98 queriam Romário mesmo machucado", comparam Romário com Ganso e querem provar que entendem de futebol. Procuram motivos para não torcer pelo time, simpatia por jogadores, falta de carisma desses, o técnico, a Argentina, o Maradona, tudo é motivo (aliás, esse é um país muito estranho porque puxam um saco daquele gordo argentino e botam pra baixo qualquer um dos nossos mas isso é outro assunto).

Em resumo, implicam com o treinador por tudo, da convocação à escalação, o esquema, a roupa, o português (se esquecendo até dos regionalismos do sotaque gaúcho), ironizam, criticam, fazem piadas... A torcida? Não, muitos jornalistas fazem isso, por isso Dunga chegou a dizer que aquela seleção não era a de muitos deles. Tenho certeza que muitos que aparecem na TV dizendo que torcem pelo Brasil estão querendo que seja um fracasso retumbante para pedir a cabeça do técnico, escorraçá-lo publicamente, transformá-lo no Judas da malhação. E ele sabe disso, a coisa é pessoal, por isso o nível de stress dele provavelmente deve ser muito maior do que o de qualquer outro técnico que já dirigiu o Brasil em uma Copa.

O erro de Dunga é não saber contornar a situação, não ter jogo de cintura, malandragem coisas que ele nunca teve, sempre foi um cara durão, rígido, meio bronco. Mas no Luis Felipe é legal, é estilo, ele é paizão, um técnico que manda seu time bater (eu disse bater, não fazer falta), provocar adversários, cuspir na cara, coisa fina mesmo, mas acham divertido. Eu li o livro sobre ele e a conquista do Penta, sei do que estou falando. O Muricy é grosso por diversão mas ninguém fala nada. Puxam seu saco e ele continua sendo estúpido nas coletivas, mas com ele é engraçado.

Não sei vocês, não sei os outros amadores mas eu solidarizo com Dunga. Quanto mais o criticam, mais eu torço por ele e pelo time, até porque sei que sou um pouco assim, me pego batendo de frente em situações que era melhor contornar mas também nunca tive jogo de cintura...

3 comentários:

Anna Flávia disse...

Também estou contigo. Acho que por tudo que Dunga representa, ele merecia um pouco de respeito, pelo menos.

E não vejo a hora dele trazer o Hexa e calar a boca de muitos jornalistas.

Belo texto.
Beijo.

Lelinha disse...

Sem mais. Perfeitas as palavras.

Magui disse...

Excelente texto,em sua análise e correção.Se Dunga conseguir fazer do Brasil hexa, sua influência vai ser benéfica demais.